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Fragmentos sobre a História da Síria – Parte I

A Síria possui uma extensa história. A partir da ascensão da religião muçulmana, a Síria foi um importante centro da civilização árabe, principalmente a partir do califado omíada (661-750), nesta época Damasco se tornou capital do mundo islâmico. Em1516, a Síria passa a fazer parte do império Otomano, essa situação se mantem até o inicio do século XX. Com o fim da Primeira Grande Guerra, a Síria é dividida em duas partes, uma sob domínio da França e outra sob domínio britânico.

O país se tornou independente em 1946. Em1948, participa da primeira guerra árabe-israelense, juntamente com o Iraque, Egito, Transjordania (atual Jordânia) e Líbano, perdendo a guerra para os israelenses. Em 1958, forma juntamente com o Egito de Gamal Abdel Nasser a República Árabe Unida (R.A.U), sob inspiração do pan-arabismo, separando-se três anos depois e transformando-se na República Síria, posteriormente em 1963 após um golpe militar, o Partido Baath chega ao poder – al-Kudsi, o antigo presidente pró ocidnte foi preso – comandado por Amin al-Hafiz, com apoio de Hafez Assad, a Síria passa a se chamar República Popular da Síria. Em 1970 depois de um período de muita instabilidade política interna no Baath e de seguidos golpes, Hafez Assad assume a presidência do país.

Em 1966, o país aliou-se novamente ao Egito e, em1967 envolveu-se na Guerra dos Seis Dias, após a invasão por parte de Israel da Faixa de Gaza, do Monte Sinai,  da Cisjordânia e das Colinas de Golã na própria Síria[1]. Mais tarde, em 1973, novamente entra em confronto com Israel, na chamada Guerra do Yom Kippur; porém em outubro do mesmo ano um cessar fogo negociado pela ONU entra em vigor.

Desde 1975 a Síria intervém na guerra civil libanesa. Até aquele momento tentava-se um meio-termo entre os diversos grupos religiosos – muçulmanos, cristãos, maronitas e druzos – a chegada de refugiados palestinos e os ataques de Israel, abriu uma larga temporada de instabilidade no Líbano. A Síria sempre adepta da causa palestina foi contrária as negociações de paz egipcio-israelitas. Em 1979 negocia com o Iraque a fusão entre as duas nações, entretanto no mesmo ano rompem relações em decorrência de divergências com o Partido Baath Iraquiano.

A Síria sempre reivindicou a restauração da Grande Síria que abarcava, além da própria Síria, o Líbano, entretanto quando do processo de descolonização a França tratou de garantir a divisão, formando-se assim, dois Estados-nação na região, posteriormente os estadunidenses garantiu apoio e proteção ao Líbano. Deste modo, a Síria viu a guerra civil libanesa como uma chance de restauração da Grande Síria.

Na década de 1990, a partir da invasão do Kwait pelo Iraque, o governo da Síria dado o novo cenário mundial com a dissolução da URSS que era o  principal aliado do governo de damasco, ensaiou-se uma nova concepção de política externa.
Hafez al Assad, apoia a ação dos EUA no Iraque contra Saddam Hussain. Concomitantemente, inicia a liberalização da economia do país. As iniciativas foram bem vistas pelas potências ocidentais, que acabam por aceitar a instalação de um governo pró-Síria no Líbano, colocando fim a guerra civil libanesa que durou 15 anos (1975-1990).

Porém na década de 2000, o processo de abertura foi obstruído. Ao mesmo tempo é iniciado o processo de sucessão, há algum tempo o presidente demonstrava sinais de enfermidade, e com a morte de Hafez Al Assad – foi o governante sírio por trinta anos, seu grupo não aceitava a menor discordância e a repressão era violenta –  controlado com mão de ferro pelo Partido Baath é indicado o filho do ditador morto.

Bashar Al Assad é escolhido como novo presidente do país. A alternativa de sucessão familiar veio como modo de evitar instabilidades políticas, já que poderia ocasionar uma luta interna fratricida no seio do Partido Baath, ainda procurava-se evitar uma confrontação entre a minoria alauita[2]  – A cúpula do Baath é de origem alauita – e a maioria sunita[3].

O regime sírio, ainda que autoritário, difere dos regimes islâmicos, já que tem caráter laico (por isso é detestado pelos fundamentalistas islâmicos da AL Qaeda e do Talibã), e reinvindica o chamado “socialismo árabe”, cunhado por Michel Aflaq, fundador em 1947 do Partido Socialista Árabe Baath, reivindicava-se como partido pan-árabe, laico e radical socialista e tinha como lema Unidade, Liberdade e Socialismo[4] (O Socialismo Árabe de Aflaq não rejeita o capitalismo como modo de produção, apenas condena o liberalismo ou o laisser faire, não faz uma interpretação classista da sociedade árabe, o socialismo seria um modo de organizar e alcançar o progresso através de um protagonismo econômico do governo, através das empresas públicas. O socialismo árabe adota a ideia de partido único, porém, renega a ditadura do proletariado, preconizando a assimilação de classes e a unidade árabe, renegando o internacionalismo e o ateísmo, diferindo-se, deste modo da tradição marxista).

A eleição de George W. Bush em 2011 alterou o desenho de forças na região, na visão do governo sírio, o objetivo de Bush, seria redefinir o caráter de diversos regimes, começando pelo Iraque, e posteriormente o Irã e a própria Síria, já que estes regimes em comum guardavam uma forte aversão ao Estado de Israel, o antiamericanismo e o domínio de boa parte do fluxo de petróleo na região. Estes países não por coincidência foram englobados no chamado Eixo do Mal, segundo a nova doutrina de segurança do governo estadunidense. Tal mudança alterou o posicionamento da Síria em relação ao Iraque, passando a amparar categoricamente o Iraque nas negociações na ONU para impedir a segunda guerra do Golfo Pérsico.

O Estado sírio, do ponto de vista institucional é forte, cultiva diversos aparelhos policiais que trabalham impecavelmente, já que durante décadas foi amparado pelas tecnologias da URSS. Após 1967, a ameaça exterior se particulariza na figura do Estado de Israel, e dos EUA como seu aliado absoluto. Nesse sentido, o regime sírio se sustentou no poder tanto em virtude da consistência dos aparelhos internos de repressão, buscando sempre se legitimar através da retórica que apontava a iminente possibilidade de invasão estrangeira.


[1] Atualmente as Colinas de Golã continuam sob ocupação isralense, mesmo após a ONU através da Resolução 497  não reconhecer Israel como detentor deste território.

[2] Cerca de 10% da população

[3] Cerca de 5% da população é cristã

[4] A “unidade” se refere à unidade árabe, a “liberdade” enfatiza a libertação do controle do imperialismo, e o “socialismo” se refere ao socialismo árabe e não ao socialismo marxista.



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